terça-feira, 5 de maio de 2009

Espetáculo em vermelho.

Era o que mostravam os cartazes que estavam colados pelos muros da cidadezinha cinza: aquele espetáculo, em poucos dias, voltaria a ser apresentado no pequeno teatro que estava em constante estado de melhora. Nos cartazes, nós poderíamos ler que ele voltaria, mas de cara nova e teria até atores novinhos em folha. Algumas pessoas, as poucas que tinham conhecimento dele, ou que haviam assistido o sucesso e a decadência da última temporada, comentavam pelos cantos da cidade e queriam ver que rumo teria tomado a vida do poeta-palhaço que tanto amara e sofrera em dobro.
Há alguns dias a barbearia tem permanecido de portas trancadas. Os ares por aqui são tão fortes que até o sábio barbeiro está amando. Fechou-se em um mundo e nem aos soldados tem atendido. Porém, com a notícia de que o espetáculo voltaria, até mesmo o barbeiro saíra para ler o cartaz mais próximo.
Enquanto a cidade comentava o grande tempo que o espetáculo ficara fora dos palcos, o poeta-palhaço se preparava, trancado em seu mundo, para mostrar até onde ele conseguiu ir com um amor que muito ensinou e machucou.
No dia da estréia, os velhos conhecedores do espetáculo estavam lá, prontos para aplaudir ou vaiar os novos rumos escolhidos pelo sempre palhaço principal.
O palhaço entrou em cena com o coração dilacerado em mãos, mais uma vez havia sido colocado de lado, como aqueles velhos cadernos de poesia que escrevemos quando criança e depois paramos pra ler: é bom ter o passado próximo, porém é bobo, não serve mais (?). Acontece que nos momentos de dor são eles que nós procuramos.
De repente entra no palco aquela mulher trajando um vestido vermelho-arrebatador, aquela que deixara o poeta, mesmo enfeitiçado, ver além. Aquela que em uma noite, por momentos, trouxe brilho para olhos cansados e o fez vestir o futuro sem medos. Ela era aquela que viria curar e incrementar, que fez um mês parecer um ano iluminado. A menina dos olhos deste pobre poeta sonhador.
Todos esperavam perplexos enquanto o circo do palhaço parecia ganhar cor, cor vibrante, cor vermelha. O elenco principal havia mudado, o palhaço saíra de cena, deixando o poeta brilhar. As luzes mudaram de lugar, outro ser (a minha mulher de vermelho) entrara em cena e o poeta, de tanto usar, acabara de perder todas as palavras. Poeta, ele continuara poeta? Ninguém sabe.
Aquele velho ator principal no seu próprio espetáculo do amor, ator coadjuvante no da vida, resolvera tomar novos rumos, já conseguia sorrir constantemente, mas ainda carregava, como aprendizado, seu doce-amargo passado.
Ator-aprendiz, palhaço-bobo, poeta-desconexo, fumante-poético, bêbado-musical, amante-apaixonado.

Quanto tempo não, amigo? Agora é hora de retomarmos o espetáculo que ficara perdido, precisava informar que o espírito deste poeta está leve e feliz, tem novas bases, enfim.
Então, em nome dos novos tempos, vamos brindar com aquele velho cigarro qualquer dia?
Abraço do teu amigo fiel, leve, ádvena, vil, inábil, amante.

O Poeta
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5 comentários:

  1. E o que é o poeta senão aquele que, com palavras, reconstrói sua própria história, sempre?

    Gostei :)

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  2. e o lindo reencontro destes poetas me devolve a alegria de poder ler suas palavras...
    palavras tais que sinto como se tbm falassem de mim...

    p.s. alma leve e feliz (que bom, eu feliz por isso)

    =*

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  3. Estou ansioso para ler mais dessa nova fase do poeta. O epílogo foi muito bom, já! =)

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  4. Amei muito o texto...
    que fiquei tmb sem palavras...
    Axo que ninguém esperava este espetáculo hein??
    ninguém esperava o final surpreendente...
    Eu, um dia, como "palhaço", nunca esperei...
    abraço...

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  5. olá, dps de algum tempo, voltei.

    dps dá uma passada lá.

    beijos!

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