segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Sobre as nossas casinhas.

É, amigo Desconexo, quanto tempo sem as tuas, cheias de sentido, frases “soltas”.
Por aí chove? Por aqui o vento vem com tanta força que parece querer derrubar as palmeiras e levar com ele toda a sujeira que emporcalha as ruas. Eu queria, agora, poder sentir o vento tocar-me cada fio de cabelo, porém a rigidez que domina o mundo parece chegar a mim, amigo. Há algum tempo não escrevo e sinto que é uma fase que pode durar mais do que deveria.
Ontem sonhei com as nossas casas na serra. Eram exatamente como imaginamos: casas simples que me pareciam leves e as palavras brincavam lá dentro como crianças que precisavam ser podadas, mas, ainda assim, necessitavam estar livres. As casas tinham cercados, sem ornatos, feitos em madeira e precisavam de alguns consertos. Os móveis eram antigos e cheios de poeira. No canto esquerdo de uma delas, Desconexo, aquela máquina de escrever com que as palavras-pueris brincavam.
À frente, talvez tu não possas imaginar a beleza que os meus olhos fantasiosos puderam ver: um riacho de águas cristalinas com aves de todos os tipos e mais palavras, mas essas eram diferentes, amigo, elas vinham em conjunto e já me pareciam poemas prontos, mas que somente olhos bem treinados poderiam sentir e capturar: como um processo fotográfico!
Eu fiquei imaginando que lá os poemas teriam fim e o teu poema de amor se faria perfeito em versos.
Final de ano sim, Desconexo, e mais uma vez os planos estão em sonho, mas tu não podes pensar que deixo de acreditar em cada um deles como prioridade e realidade.
Por aqui as pessoas encheram as casas de cores que normalmente são verde e vermelho. Elas celebram cada dia que passa e eu mal consigo enxergar essas cores, principalmente as que vêm de dentro delas. O cheiro da podridão interna dessas pessoas começa a dominar os becos e ruas também imundos. Outro dia o Sr. Barbeiro, da esquina, que recebe alguns soldados e é um dos únicos homens “limpos” que vivem por essas bandas, me disse que as ruas eram reflexos de cada ser imundo que mora aqui. Ando preocupado.
Amigo, quanto ao teu poema, tu não precisas te preocupar: nós, que somos poetas, sabemos que o poema se sabe de amor muito antes de ser escrito porque ele é conseqüência de sentimentos puros. Não é assim? O teu, provavelmente, é só um poema orgulhoso, talvez ele seja egoísta e queira ser mais trabalhado que os outros. Como são bobos esses remédios de alma.
Mas entenda outra coisa, amigo, um poema é poema completo tendo uma, duas, três estrofes ou não as tendo. Até aquele que ainda está para nascer já se sabe poema.
E, olha, assim que a rigidez que me toma der-me uma trégua, mando-te algo meu para que possas ler.

Abraços do teu amigo
Poeta.

2 comentários:

  1. Imagens belíssimas. Deu inveja da casinha de vocês =) Belíssimas também as reflexões que fizeste acerca de sonhos e poemas, dialogando com o Desconexo mas usando novas e ricas idéias. Adorei fuçar a correspondência de vocês! =D

    ResponderExcluir
  2. Muito boa a forma como os textos se completam...
    Me fizeram lembrar de outras casinhas de outros poetas...
    Uma "casa muito engraçada", talvez...
    Uma "casinha lá na marambaia"...
    Ou Penny Lane, onde o barbeiro não vê a sujeira das ruas (porque nao há) e só coleciona fotos de seus clientes.
    Adoro essas casinhas, vizinhas no Sonhar.

    ResponderExcluir