segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Ao amigo Poeta,


Dos meus sonhos pós-revolução, sonhei com aquela casinha na serra, e sonhei com o poeta de meu vizinho... Sonhei que não era mais preciso sonhar... E acordei assustado com o sonho, que pesadelo se tornou...
Desculpe por esse começo meio sem sentido, mas me lembrei, já no meio do caminho, que não sei começar... E desde de que poeta, tu me chamou, com as palavras não sei mais brincar...
As chuvas começaram por aqui poeta, é engraçada essa sensação de fechar os olhos e parecer reviver tudo de novo. Todos os fins de ano são iguais: meia dúzia de nostalgia, uma pitada de saudade, duas colheres e meia de planos, acompanhados de uma colher de chá de frustração...
A revolução entrará por mais um ano, e por mais um ano vai ser adiada aquela bela pintura de casinha na serra, livros espalhados, canções antigas. Não estou triste, a maior parte do tempo à luta me traz os poemas que o amor me nega. Mas a verdade é que a fraqueza me espreitou por todos os caminhos que por esses tempos venho percorrido, e numa vida de lutas, a fraqueza é pior que a morte. Penso na morte como uma conseqüência, mais um ato no teatro da vida, mas a fraqueza é uma doença, assim como um vírus que não te mata mas te tira a vontade, o espetáculo não acaba, mas são abaixadas as cortinas. Ela ainda está aqui, olhando pra mim meio de lado, mas me resta lucidez o suficiente para que ela não se aproxime.
Além da fraqueza, agora passei a dividir o quarto com a aflição. É que além de todas aquelas coisas, de que já falei, o fim de ano me traz também lembranças, lembranças muito boas, mas angustiantes também. Sim poeta, eu tenho um poema mal resolvido, um poema de amor. E eis que as lembranças me trazem as estrofes mal terminadas daquele poema.
Estou em um dilema: o poema não está terminado, não pode ser declamado, é por vezes complicado demais até para mim, mas ainda assim é poema, ainda assim pulsa em mim cada letra daquela, ainda assim canta em mim cada estrofe, é o poema que ainda me faz poeta, me preenchendo de amor, de vida, de vontade, me esvaindo de saudade, de quase dor, de angústia. Não sei o que fazer. Daqui a alguns dias é o dia do poema, confesso que por mim faria algo especial, simples o bastante para o poema saber que é poema, que é de amor. Mas tenho medo, medo do ridículo, medo da insignificância, medo de em vez de escrever mais uma estrofe, apagar uma que já está escrita. Não sei o que fazer.
Está bom de lhe importunar por hoje, gostaria muito de saber notícias suas, um poema novo, quem sabe?! Afinal, o poeta aqui é você, eu escrevo apenas pseudo-poemas, em uma vida de sonhos, e essas foram apenas algumas frases soltas do seu amigo,

Desconexo.

2 comentários:

  1. Há muito sentido na tua desconexão, e muita verdade também. É bom ficar imaginando o que se esconde atrás de cada metáfora ou simplesmente apreciar as palavras tal como são postas =] E, como imagino que saibas, sonhar é meio caminho pra chegar à revolução (afinal, sonhar é uma revolução que fazemos em nós mesmos!). E eu faço votos pra que tu tenhas sorte com o poema - e eu sei que terás.

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  2. Excelente!

    desconectar... sinceramente, essa é a vontade que dá depois de um ano inteiro de trabalho e da necessidade de "alienar-se para inserir-se no contexto" - como diria Geni Guimarães em seu livro "A Cor da Ternura". Fim de ano remete mesmo a vontade de escrever cartas assim. Sentimento bem colocado e carregado de uma poesia rara, dessas que andam em falta no mundo.

    Parabéns pelo texto e pelo blog!!!

    O bom de viver e sonhar é "poder extravasar... desmedir..." e a poesia nos permite isso.

    Talita Guimarães
    Foca do Ensaios em Foco
    http://www.ensaiosemfoco.blogspot.com

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