quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A terceira estrofe.

Uma breve apresentação para quem acabou de reviver:

Oi, meu nome é Poeta, tenho mais de duas décadas de vida, sou uma constante vítima do Amor e luto, veemente, para aprender a lidar com ele. Amar pra mim sempre foi sinônimo de loucura. E só. E um monte de outras coisas também!
Sou um amante das mulheres, adoro todas: sem nome, endereço ou telefone. Mentira: algumas me fascinam mais e têm nome, endereço e telefone. Mentira de novo: apenas uma tem me fascinado!
Gosto muito da madrugada, não gosto muito do dia e suas obrigações e chateações. Eu gosto de calmaria, cigarro e livros. Livros me fascinam tanto quanto mulheres! Quase sempre carrego um por baixo do braço, aliás, eu sempre digo é que estou por baixo dos braços deles. Entendem agora a comparação com as mulheres? Sou um sempre apaixonado. Amo, decreto felicidade sem fim e encaro a morte quando são amores efêmeros e vis, o que eu nunca espero.
Sou amigo do barbeiro há alguns anos e freqüento a barbearia para falar desses amores vis e daqueles que me surpreendem pela força. O assunto sempre é Amor. Sou amigo do Desconexo porque ele, como eu, entende o valor da palavra. E também gosta muito de falar sobre o tal do Amor.
Por enquanto é só.

Amigo Desconexo, um pedaço de dentro deste teu amigo, que era meio arrogante e tinha mania de nomear-se ‘inteiro’, quis ser mais forte que todo o resto e decretou morte substancial de mim.
Nada que o vento já não tenha levado. Aliás, eis aqui um ser que valoriza a vida após o fim do Amor. Enquanto posso, amarei dez mil vezes mais. Eu digo sempre que é muito sortuda aquela que me tem depois de uma morte. Revivo doando Amor aos ventos.
Eu não acho que as fotografias se desgastam, elas continuam lá com os mesmos sorrisos, os mesmos laços invisíveis. O que se desgastam são as pessoas. A ilusão nos faz viver o eterno-perecível. Eu estive vítima de um desgaste que não me tomou, apenas me empurrou para onde eu pensei que não mais voltaria. Trágica ilusão dos apaixonados: volto a cada dia.
O meu amigo, o barbeiro, reabriu a barbearia e voltou a trabalhar como há muito não fazia. Fui vê-lo, levei alguns cigarros para que ele me recebesse com sorrisos largos. Não que ele não o faça, mas o barbeiro também ensaiou a morte. E para falar da morte nós brindamos com fumaça.
Mas o Amor não é esse rio de coisas boas não, ele é traiçoeiro sim e espaçoso como ninguém. Deixaste-o entrar? Ha, podes esperar: ele vai tomar a tua cerveja, fumar o teu cigarro, ler as tuas poesias em voz alta, deitar na tua cama e, enfim, assim que ele cansar, carregará com ele tudo que ele pode levar.
E tu? Ficarás triste com os pedaços que ele deixará em cada canto: um cabelo no travesseiro, um cheiro na toalha de banho, um caderno teu que ele resolveu tirar do baú pra riscar, um prato sujo que tu terás que lavar e boas e lindas saudades pra que tu chores lembrando cada peripécia que ele causou enquanto te ocupava o coração.

Que saia o Amor, reine a amada:


Certo dia, cheguei a minha casa - tinha saído para comprar mantimentos (cadernos, vinhos e cigarro) - e, assim que entrei, senti um cheiro que já não me vinha há algum tempo. Como tu sabes, perfumes são belas armas. Sábias as mulheres que escolhem bem seus perfumes. Elas podem ser esquecidas, eles não. Eu te digo: sabes como tu podes conhecer uma mulher? Pergunta o nome do perfume dela, se ela não disser, descobre.
Esta que me vinha um dia havia usado Y e ela era, realmente, uma incógnita. Hoje eu descubro em seus poros um perfume diferente, americanizado, como ela, mas forte e que soa decidido. O “insensatez” havia me machucado muito. Adivinha o porquê, amigo? Insensato perfume, insensata dona.
Seguindo: sentei na poltrona para tentar arrancar do vento o máximo que eu poderia daquele cheiro. Quando olhei para trás, o BAÚ estava aberto. O cheiro, as coisas, as roupas, as lembranças daquela mulher: tudo estava espalhado por cada canto daquela casa. E ela... Ah! Ela lá, deitada, nua, na minha cama. A mala em um canto e dentro dela nada além de saudade. Isso deixou a mala pesada. Assim ela tinha voltado ao nosso mundo. E eu, sentado diante do baú, só conseguia ver cada curva que a vida tratara de lhe esculpir. E quanto sentimento ainda havia! É assim que eu volto e começo a escrever a terceira estrofe!
Poetas morrem na segunda estrofe para reviverem amantes e amados na terceira.

Abraços, Desconexo.
Espero notícias suas.

Do teu amigo apaixonado, meio pilantra, meio Poeta.