segunda-feira, 20 de julho de 2009

Um sorriso de esperança




Amigo,

Se é ridículo eu não sei, mas que é irresistível, isso não podemos negar. Amar é como aquelas coisas que por mais que todos os alertas pisquem tentando fazer com que a gente siga na outra direção, nos deixamos vagarosamente escorregar e sermos tragados para o bem, ou para o mal. É como se empanturrar de chocolate em uma madrugada da semana que você decidiu entrar de regime. Como tirar folga no meio do dia mais cheio, simplesmente porque você precisa sentar no banco de uma praça e sentir o vento tocando seu rosto. Como tomar banho de chuva correndo o risco de ficar resfriado. Ou se sujar brincando com o cachorro, bem antes de sair.

Mas é isso, o que seria de nós sem todas aquelas coisas que dissestes? Somos ridículos e idealistas porque em um segundo, em um olhar e um sorriso podemos ver o mundo transbordando de felicidade, para no segundo seguinte algo tentar nos mostrar a realidade, mas em vez de ficarmos taciturnos e concordarmos que nada vai mudar, temos dentro de nós, bem guardado lá no fundo uma faísca de esperança. São assim que desenhos de casa de papel servem para todas as crianças de rua morar.

Bobos e palhaços por cruzar meio mundo pra achar o bichinho que ela tanto quer, ou a rainha vermelha do jogo de baralho, ou até pedir atrapalhado o hambúrguer de nome mais estranho e mais caro da loja só para a ver sorrindo com os olhos. E é tão pequeno aquele instante em que ela dorme no teu ombro e tu te permites ser um bobo sonhador, com uma leve e fugaz sensação de que as coisas realmente podem ser diferentes, que tudo que se quer é que ele dure por toda a eternidade. Um segundo que dura por toda eternidade, e é assim que nasce e persiste o “pra sempre”, meu querido amigo.

E como tu bem dissestes “Amar é perder os rumos, é perder as canetas”. É tentar achar a palavra certa para dizer tudo aquilo e logo depois concordar que todas elas são insuficientes para o que só se pode sentir. E é claro que não se desaprende isso. Nós tropeçamos e até nos emburramos, e por um tempo decidimos que já chega. Mas é como começar a andar de bicicleta, você fica encarando aquela coisa que você tanto sonhou, tanto quis e que agora te faz cair, te arranhou o joelho e até te fez passar vergonha diante de todos, encara e decide recomeçar, persistente. E quando se desce a ladeira, com o vento contra o rosto, sem cair, mas ainda com um medo enorme de quebrar a cara, ai meu amigo, se aprende a amar, e como andar de bicicleta... sim, aquele velho clichê.

No dia em que tu se permitiu concordar comigo, eu me permiti sorrir com esperança para esse elixir que irresistivelmente bebemos e torcemos para não morrer, apenas pelo gosto bom que ele tem. Espero que isso seja algo perto de um “sorriso [com] aquela esperança de amor gratuito e simples pra seguir uma longa estrada”... Ainda continuo vivo, sorvendo aos poucos esse tal elixir, com um cuidado nada planejado, um dia após o outro e apenas isso...


Um grande abraço, do desequilibrado,

Desconexo.

sábado, 18 de julho de 2009

Amar é ridículo (ou não).

Agora podemos dizer que a comunicação voltou. Eu sinto tantas saudades suas que às vezes me pego pensando que sou dependente das tuas notícias. Talvez seja porque elas fazem brotar em mim essa vontade de estar conectado; de transcrever paisagens e/ou sentimentos.
O tempo realmente anda estagnado: é sempre o mesmo horário e o mesmo clima. Mas não podemos esquecer que seis da tarde é final do dia de estudo, de trabalho e é o melhor momento para encontrar amigos, curtir escadarias e conversar até o último ônibus permitir ou até a última carona sentir-se confortável.
Enfim, entre outras coisas, hoje acordei com vontade de concordar um pouco contigo e de forma extremista, dizer: Amar é ridículo!
O amor é o “ridículo da vida”, diria Cazuza. “O amor nos torna patéticos”, diria Jabor.
Todo processo de entrega torna-se, curiosamente, vagaroso e leve. Ouvir música é transportar o outro pra uma visão 3D que a gente quer tocar, mas só admira bestificado, olhando o nada.
É ridículo imaginar que o mundo a nossa volta torna-se inútil, porque o amor nos “corta os fios de realidade”, diria Clarice. Esperar horas diante do telefone que não toca e, esperando, fazer mantra pro tempo passar mais rápido enquanto o bom dia não chega. Amar é perder os rumos, é perder as canetas. Mas, olha só, amigo, nós não desaprendemos a amar, esse processo é totalmente intrínseco. No máximo a gente dá um tempo pra que o amor durma e acorde refeito, maduro e cheio de vontades.
Outra coisa que venho aprendendo há algum tempo: lembranças são traiçoeiras. Tomemos cuidado com elas e com falsas sensações nostálgicas. O ideal é equilibrar vontades. Suspirar lembranças do que foi há minutos atrás.
Mas para aquele que deseja realismo, digo: Previna-se realmente! Paixão e Amor são para os fracos e idealistas, indiscutivelmente.
Os fortes ficam sozinhos a cada nova esquina, são pesados, carregam cadernos e canetas, escrevem muito e vivem amores efêmeros.

Afinal, para que serve o amor?
Só para multiplicar o número de bobos, patéticos, ridículos.

Porém, para aqueles que desejam complementaridade, sorrisos matinais que transcendem luz, “eu te amo” dito bem cedinho ou tarde, antes de dormir; abraços reais durante o sono, poesias ditas bem de pertinho, saudade antecipada que massacra o peito, sentimento de “querer bem” e ser desejado. Para aqueles que querem leveza eu digo mais: Renda-se enquanto puder ouvir o vento, enquanto puder sentir (ou fazer) uma canção.
O amor continua sendo ridículo. E nós, poetas, mais ridículos ainda porque transformamos o dito cujo em palavras. Porque desdenhamos daquilo que nos alimenta e porque também somos Fracos.
A ti, amigo, desejo força. Quero ver no teu sorriso aquela esperança de amor gratuito e simples pra seguir uma longa estrada (sem esquinas – elas trazem amores perigosos e ilusórios).


Estrada por estrada, continuo viajando e, ridiculamente, amando.

Abraços do teu fraco amigo Poeta.

terça-feira, 14 de julho de 2009

As faces do poeta


Estimado amigo Poeta,


Não saberia precisar as horas porque em tempo nublado sempre parece seis da tarde. Mas diferentemente do tempo a vida por aqui está com tempo tão bom e tão leve que até parece primavera. Foi com grande felicidade que recebi tuas notícias e vi se desenhar todo esse espetáculo, onde horas me senti como ator, horas como autor... mas ninguém escreve tão bem a meu respeito, como tu, somos parecidos, afinal...
As chuvas atrasaram a revolução por mais algum tempo e a espera, aqui do outro lado do rio, me traz todas as reflexões do mundo...

[...]

Um amargo poeta

Estimado Poeta,
de tantas maneiras já imaginei como lhe escrever... Mas começo por dizer que devo ter desaprendido isso, assim como desaprendi compaixão, compromisso, vontade... Amor...
As chuvas interromperam a revolução por algum tempo... Do outro lado da estrada avalio que não consigo mais enxergar as qualidades de um revolucionário em mim, tampouco de um poeta... Estou tão vazio hoje que se eu gritar, vou ouvir o eco dentro de mim...
Não existe mais nada em que ter esperanças ou sonhar? Acontece que as palavras precisam ser sentidas para serem escritas e eu não sei até que ponto ainda sinto algo, senão esse desagrado por todas as coisas, como se nada do que coloco tinta fizesse algum sentido... As coisas para mim tem sido como minha letra para os outros, em que se desiste antes do segundo parágrafo.
A felicidade que me acenava horizonte acima, parece que desapareceu por lá mesmo... Pelo menos desse outro lado da estrada eu não consigo observá-la... Não mais...
As lembranças voltaram a me perseguir como os fantasmas de minha sombria consciência... Quero me apegar a elas como uma desculpa para voltar a ter algo que sentir, mesmo que seja mágoa ou tristeza... E estou quase acreditando que sentir isso é melhor do que não sentir nada... É melhor do que contemplar minha insignificância diante da mecânica do mundo... Melhor do que a inutilidade de uma tarde perdida tentando achar o significado para toda a encenação do mundo e para minha angústia diante de tudo isso...
Para completar, sinto que estou caindo na velha armadilha... Eu vi em algum lugar, não me lembro onde: Paixão dá e passa... Dá e passa... Eu completaria: Paixão dá e passa... Ao persistirem os sintomas procure um poeta... Paixão pode virar amor. Previna-se.

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Fragmentos... Foi nisso que minha vida se tornou... Um pedaço de qualquer coisa pra viver, pra sorrir, pra chorar...

[...]

“...Sobre a dor das palavras e outras lágrimas....” – O título de um poema que não escrevi...

[...]


Renúncia

Eu, poeta, numa idade incerta, morada dos pássaros, dispondo de todas as minhas faculdades físicas e mentais renuncio ao amor e todos os benefícios que dele pode advir. Renuncio também a qualquer expectativa de felicidade constante, assim como de sonhos e planos.
De hoje em diante, viverei de versos simples sobre o cotidiano, inquietações puramente lógicas e realistas sobre a situação do mundo ou do homem e na falta de assunto, não me darei ao trabalho de escrever.
Não alimentarei amizades de qualquer tipo, tampouco as expectativas que alguém possa ter a meu respeito. Ainda serei imensamente sincero, e portanto, leal com qualquer um que ainda mereça minha consideração...

[...]

Alívio ou Aceitação

Meu querido amigo,

É noite sem lua e acabei de tomar um caldo para tentar me livrar da ressaca que adveio das emoções de ontem. Mas resumindo tudo, não foi bêbado que fiquei, mas em êxtase.
Todo o peso do mundo desafogou dos meus ombros e ficou na porta azul, única testemunha de todos os meus incontáveis segredos, desabafados aos sussurros. “Eu te amo...”
[...]

Por mais que tentasse lhe resumir por tudo que tenho passado nos últimos tempos, nada fazia sentido o suficiente ou era fiel aos acontecimentos. O tempo é de mudanças, meu caro... velhos estabelecimentos fecharam, nossos amigos não são mais bem vindos na cachaçaria, fui demitido do emprego que quase me corrompia, a revolução engrenou...
E os sinais das mudanças estão por toda a parte: nos livros que comecei a ler, nas histórias que ressuscitei, na mala suja de poeira, no corpo da minha menina entrelaçado ao meu, nos poemas novos...
Mudança tem cheiro de café ao amanhecer...

Quanto a trago, bom, aceito um vinho, aceito as velhas poesias invocando nossos mestres, aceito teu violão cantando nossas paixões... mas permita-me recusar o trago... deixei esse vício para trás, assim como deixei tudo que me pesasse o ombro, como aquela roupa de festa, que detesto vestir... arggg... rsrsrsrsrsrrsrsr

Saudades...

Desconexo.